A importância de Maria no Plano de Salvação desde a concepção até estar aos pés da cruz.

 

Maria: Serva humilde no plano soberano de Deus

1. A graça de Deus na escolha de Maria (Lucas 1:26-33)

"E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida (cheia de Graça)! O Senhor é contigo." 

Lucas 1:28

Importante começarmos essa reflexão enfatizando a soberania absoluta de Deus. A escolha de Maria para ser a mãe do Salvador foi baseada na graça imerecida de Deus. O anjo Gabriel diz: "Alegra-te, muito favorecida (cheia de Graça)! O Senhor é contigo." — uma declaração de que Maria foi objeto da graça divina. Foi Deus quem a escolheu livremente, em seu plano eterno de salvação, e quem a capacitou para cumprir essa missão única.

Ela é agraciada porque Deus decidiu usá-la em Seu plano redentor. Como escrito em Lucas 1,30: “achaste graça diante de Deus”. A salvação viria por meio dela, pela Graça concedida por Deus, que escolhe Maria, uma jovem humilde de Nazaré, para demonstrar que o Senhor realiza grandes obras por meio de vasos simples, para que toda a glória seja dEle (cf. 1 Coríntios 1:27-29).

Toda obra da salvação é obra da graça. Deus escolheu Maria, a preparou e sustentou com sua graça para que ela fosse um instrumento fiel.

Maria responde com humildade e fé:

“Eis aqui a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”

 (Lc 1:38).

Essa resposta mostra que ela não se apoiava em si mesma, mas se entregava à vontade de Deus, como uma serva. Esse é o verdadeiro exemplo de alguém que foi capacitada por Deus para uma missão impossível aos olhos humanos.

Destaca-se que Maria teve papel fundamental e único na encarnação do Filho de Deus — ela concebeu, carregou e deu à luz Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne (João 1:14). Entretanto, a singularidade da missão de Maria não a eleva a uma posição de corredentora. Ela mesma declara em Lucas 1:47: “o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” — reconhecendo sua própria necessidade de salvação.


2. O que o fato de José ser descendente de Davi tem a ver com a escolha de Maria para mãe do Salvador?

Essa é uma pergunta profunda e muito importante. Vamos olhar com cuidado:

a) A promessa messiânica estava ligada à casa de Davi

Deus prometeu a Davi que um de seus descendentes reinaria para sempre:

"Firmarei para sempre o trono do seu reino." (2Sm 7:13)
"Do tronco de Jessé sairá um rebento." (Is 11:1)

Logo, o Messias deveria vir da linhagem davídica.

b) José era da casa de Davi (Mt 1:20, Lc 1:27)

Embora José não fosse o pai biológico de Jesus, ele era o pai legal. Ao tomar Maria como esposa e aceitar Jesus como seu filho, ele conferiu a Jesus os direitos legais de descendência de Davi. Isso cumpre o requisito da linhagem messiânica e em nada diminui a importância da escolha de Maria.

c) Maria também pode ter sido descendente de Davi

Alguns estudiosos observam que Maria pode também ser descendente de Davi, especialmente considerando a genealogia em Lucas 3, que alguns acreditam ser a genealogia materna. Assim, Jesus seria filho de Davi por direito legal (por José) e por sangue (por Maria)

promessa feita a Davi se cumpre plenamente em Cristo, e parece razoável que tanto Maria quanto José pertencessem à mesma tribo de Judá, especialmente porque, segundo a Lei (Números 36.6), era comum os casamentos acontecerem dentro da mesma tribo.

A verdade é que o fato de Maria ter sido escolhida não foi apenas uma questão pessoal, mas parte do cumprimento detalhado das promessas de Deus. Deus soberanamente conduziu a história para que seu Filho viesse na plenitude dos tempos (Gl 4:4), cumprindo a Lei e os Profetas.


3. Lucas 1.39-45 — A visita a Isabel

Maria visita sua prima Isabel, que também está grávida (de João Batista). Ao ouvir a saudação de Maria, Isabel é cheia do Espírito Santo e reconhece a grandeza do que está por vir:

"Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!"

Maria é reconhecida como abençoada, porque o Senhor é com ela e ela está trazendo em seu ventre o Salvador. Isabel, cheia do Espírito, testifica da graça derramada sobre Maria. Entende-se esse reconhecimento como um testemunho da soberania divina, que escolhe vasos humildes para cumprir seus propósitos gloriosos. Vale insistir que Maria é uma serva fiel que crê na promessa de Deus, e essa fé é modelo para nós.


4. Lucas 1.46-55 — O cântico de Maria (Magnificat)

Maria exalta o Senhor em um cântico repleto de referências ao Antigo Testamento. Ela reconhece a graça de Deus sobre os humildes e o poder de seu braço para derrubar os soberbos.


Esse cântico revela o profundo conhecimento teológico e bíblico de Maria. Ela compreende que está no centro do cumprimento das promessas feitas a Abraão e sua descendência. Enfatiza-se o Magnificat como uma confissão de fé: Maria sabe que tudo vem de Deus — ela não se exalta, mas engrandece o Senhor. Isso demonstra que ela foi espiritualmente preparada por Deus para a missão que recebera.


5. Lucas 2.16-20 — Maria guarda as palavras no coração

Após o nascimento de Jesus e o testemunho dos pastores, Maria "guardava todas estas palavras, meditando-as no coração".


Maria é uma mulher de reflexão e fé. Valoriza-se, aqui, a meditação nas obras de Deus, e Maria encarna essa postura contemplativa. Sua disposição de ouvir, guardar e meditar nos atos de Deus mostra como ela cooperou na formação de Jesus, sendo uma mãe piedosa, observadora e atenta ao agir de Deus.


6. Lucas 2.25-35 — A profecia de Simeão

Simeão profetiza que Jesus seria luz para os gentios e glória de Israel, e diz a Maria: "uma espada traspassará a tua própria alma".


Maria é lembrada que sua jornada com o Salvador não será isenta de dor. A profecia mostra que ela participará, com sofrimento e entrega, do processo redentor. Embora não seja corredentora, a dor dela aponta para o custo do plano da salvação. Isso deve ser visto como um testemunho de que o discipulado verdadeiro envolve renúncia e sofrimento.


7. Lucas 2.41-51 — Jesus no templo aos 12 anos

Maria e José procuram Jesus, que permanece no templo. Quando o encontram, Maria diz: "teu pai e eu, aflitos, te procurávamos". Jesus responde que estava “nos negócios de seu Pai”.

Aqui vemos Maria como mãe educadora, preocupada com o filho. Mas também vemos que ela ainda está crescendo em sua compreensão da identidade messiânica de Jesus. O fato de que ela "guardava todas essas coisas no coração" mostra seu processo contínuo de fé. A formação de Jesus contou com um lar piedoso, que valorizava a Páscoa e a presença no templo. Maria e José contribuíram significativamente para a formação do caráter humano de Jesus.


8. João 2.1-11 — As bodas de Caná

Maria informa a Jesus que o vinho acabou. Jesus responde: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora”. Mesmo assim, Maria diz aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”.

Este episódio mostra que Maria confia plenamente em Jesus. Mesmo diante da resposta dele, ela instrui os outros a obedecerem ao que Ele disser. Aqui vemos Maria como alguém que direciona as pessoas a Cristo — não para si. Essa postura deve ser altamente valorizada: todo verdadeiro servo de Deus aponta para Jesus, não para si. Assim, Maria deve ser honrada como exemplo de fé.


9. Mateus 12.46-50 / Marcos 3.31-35 / Lucas 8.19-21 — A verdadeira família de Jesus

Maria e os irmãos de Jesus o procuram, mas Ele responde: “Quem é minha mãe e meus irmãos? São aqueles que fazem a vontade de Deus”.


Este texto mostra que, embora Maria fosse sua mãe biológica, o Reino de Deus é construído sobre laços espirituais. Isso não diminui o papel de Maria, mas destaca que sua grandeza não está apenas no fato de ter dado à luz a Jesus, mas também em ser uma mulher que fazia a vontade do Pai. Vê-se, aqui, que a honra que é devida a Maria está no seu exemplo de fé e obediência. 


10. Maria aos pés da cruz (João 19:25-27)

"Quando Jesus viu a sua mãe e perto dela o discípulo que ele amava, disse a ela:   
— Este é o seu filho. Em seguida disse a ele:   — Esta é a sua mãe."  

No momento mais sombrio da história humana — a crucificação do Filho de Deus — Maria está presente. Ela é uma mãe que sofre, vê seu Filho justo e sem pecado ser entregue à morte. Aqui, ela representa a humanidade quebrantada, e ao mesmo tempo a fé perseverante.

Jesus, do alto da cruz, olha para ela e diz: “Mulher, eis aí o teu filho” — entregando-a aos cuidados do discípulo João. Esse gesto, embora cheio de ternura filial, também tem significado teológico: Jesus está estabelecendo uma nova comunidade de fé, onde os laços espirituais em Cristo se tornam mais profundos que os laços biológicos. A verdadeira família de Jesus é composta por aqueles que fazem a vontade do Pai (Marcos 3:33-35).

A presença de Maria na cruz não indica uma função redentora, mas uma postura de submissão, fé e dor diante do plano de Deus. Ela esteve presente no início do ministério terreno de Cristo (nas bodas de Caná) e está presente no seu fim terreno (a cruz). Ela é testemunha da promessa e do sofrimento.


🎯 Conclusão: A importância de Maria no plano Redentor.

Maria deve ser honrada como uma mulher de fé, exemplo de obediência e serva escolhida por Deus. Lembremos que a Escritura afirma: “Há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus” (1 Timóteo 2:5).

Maria aponta para Cristo. Ela concebe o Salvador, vê Sua crucificação, e posteriormente está entre os discípulos aguardando o Espírito Santo (Atos 1:14). Sua história é parte do evangelho, onde o centro é Jesus — o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Devemos ver Maria como uma mulher extraordinária, agraciada por Deus, que viveu com fidelidade o chamado que lhe foi confiado. É uma discípula exemplar. Seu papel na formação de Jesus como homem — tanto na piedade quanto no caráter — é inegável, pois Deus escolheu que o Salvador fosse formado num lar temente a Ele.

Maria, como serva do Senhor, nos ensina a viver com temor, confiança nas promessas e disposição para servir, mesmo sem compreender tudo de imediato. Ela aponta para Cristo, e por isso é digna de nossa admiração — como exemplo de fé, humildade e entrega ao serviço de Deus.

Pontos para refletirmos:

  • Maria foi escolhida pela graça. Deus a capacitou para a missão.

  • José, sendo da linhagem de Davi, confere a Jesus os direitos legais à linhagem messiânica. Há alguns teólogos e estudiosos bíblicos que exploraram a possibilidade de Maria ser também descendente de Davi, embora a ênfase esteja, principalmente, na linhagem davídica de Jesus por meio de José (pai legal).

  • A escolha de Maria e José mostra a fidelidade de Deus às suas promessas.

  • Maria nos ensina a fé, a submissão e a confiança no plano de Deus, mesmo quando ele nos coloca diante do impossível.

  • "Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos."

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